Diagnosticar situacionalmente é preciso

Naturalmente, sabemos o quão é imprescindível para um bom médico fazer diagnósticos adequados de agravos à saúde. Mesmo em situações de incerteza, um diagnóstico mais provável aproxima-o de condutas mais adequadas. Traduzindo para o cotidiano da nossa vida pessoal, percebemos que o mesmo princípio se aplica, claro, de forma um pouco diferente. Pense nas inúmeras vezes em que esteve diante de problemas pessoais, familiares, profissionais só nessa semana. Sim, foi preciso fazer um diagnóstico desses problemas, para então, lidar com eles. Alguns você priorizou, porque mereciam ser resolvidos o quanto antes. Outros, você deixou para depois, talvez por serem complexos demais para ser resolvidos, ou simplesmente porque não tiveram importância. De forma análoga, pense no quão importante é para um diretor de uma grande empresa fazer diagnósticos? Sem um entendimento, ainda que superficial dos problemas, não há solução minimamente eficaz.

Em se tratando de APS, além dos diagnósticos clínicos, tão fundamentais à realidade da assistência à saúde, é imensamente necessário trabalhar o diagnóstico de outros problemas. Traduzindo, é fundamental executar o diagnóstico situacional, parte crucial da elaboração do planejamento estratégico situacional (PES). Se você não leu a última postagem sobre o assunto aqui no blog, sugiro fortemente que dê uma conferida antes de prosseguir.

O que é Diagnóstico Situacional?

Diagnóstico situacional em saúde significa diagnosticar os variados problemas que permeiam um determinado território com uma respectiva população. Significa basicamente identificar problemas, descrevê-los, explicá-los para então solucioná-los. Dentro do PES, corresponde ao momento explicativo.

Mas a questão é: como fazê-lo?

Uma das estratégias para o Diagnóstico Situacional é a Estimativa Rápida. De forma rápida e a baixos custos – grandes vantagens do método, a estimativa rápida permite o levantamento de dados qualitativos e quantitativos relevantes para uma realidade específica, contando com a participação tanto da comunidade quanto dos diferentes atores sociais (controladores de recursos indispensáveis para o enfrentamento de problemas). Esses dados são normalmente obtidos de fontes secundárias (registros do SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica, por exemplo), de entrevistas com informantes-chave e da observação ativa da área.

E quais informações são coletadas?

Geralmente, informações que ajudam na composição dos perfis de planejamento, isto é, que contribuem para a descrição da situação de saúde da população. Buscam-se informações relativas a indicadores de qualidade, demografia, ao ambiente, à situação socioeconômica, aspectos epidemiológicos, políticas sociais entre outros. Acompanhe abaixo a pirâmide dos perfis de planejamento para compreender os blocos de informação que permitem a compreensão de uma determinada localidade.

Pronto, sabemos então o que é a estimativa rápida, suas vantagens, o que buscar e quais as fontes de informações. Mas como elaborá-lo? Sugestão, siga o passo-a-passo:

Passo um:

Reúna-se com a sua equipe, proponha conhecer a situação de saúde local do território de atuação. Abra espaço para discussão sobre a importância de se diagnosticar os problemas do território. Uma vez acordado fazer o diagnóstico, avance para o próximo passo.

Passo dois:

Construa o perfil de planejamento do território. Para isso, você precisará, junto com a sua equipe, construir roteiros que pesquisem as necessidades da população. Para tanto, faça três roteiros padronizados para a coleta das informações. O primeiro com dados a serem buscados nas fontes secundárias. O segundo a ser aplicado aos informantes-chave (lideranças comunitárias, pessoas de destaque na comunidade, moradores antigos, comerciantes, lideranças religiosas). O terceiro roteiro para a observação ativa da área (observar o ambiente físico do território, os serviços oferecidos). Atente-se para as dicas: colete somente dados pertinentes e necessários; faça perguntas claras e com uma linguagem adequada; envolva a população na definição dos problemas e na busca de soluções; estejam sempre atentos à realidade, e aprendam com a comunidade.

Passo três:

Interprete os dados com diligência e bom senso. Classifique os dados! Para tanto, tente identificar as categorias, classificar as respostas e por fim, interpretar as descobertas. Faça uma síntese das respostas para então avançar para o próximo momento do PES, o momento normativo, tema de uma das próximas postagens aqui do blog.

Referências bibliográficas:

1. CAMPOS, Francisco Carlos Cardoso de; FARIA, Horácio Pereira de; SANTOS, Max André dos. Planejamento e avaliação das ações em saúde. 2010.

2. KLEBA, Maria Elisabeth et al. Estimativa Rápida Participativa como ferramenta de diagnóstico na Estratégia Saúde da Família. Revista Grifos, v. 24, n. 38/39, p. 159-178, 2016.

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