Genograma: a Abordagem Familiar na Prática da Atenção Primária

Em sua mais amplamente conhecida definição, o genograma é uma representação familiar esquemática. Tal representação busca evidenciar quais são os membros de uma família e as relações que eles estabelecem entre si, em conjunto com as informações médicas e psicossociais que os unem.

Por que usar o genograma?

O uso do genograma parte do reconhecimento da família enquanto uma fonte de modelos que direcionam a forma que cada um aprende a ser e a enfrentar dificuldades. Isso se reflete nos processos envolvidos na promoção da saúde, no desenvolvimento e na recuperação de doenças. Sendo assim, quando pensamos no modelo biopsicosocioespiritual, ela deve ser entendida como um ambiente que pode ser de apoio e de proteção, mas  também de conflitos e de reprodução de padrões saudáveis ou não.

A partir deste entendimento, o genograma pode facilitar a visualização do processo de adoecer, a identificação de padrões familiares genéticos e comportamentais, a avaliação da interação entre os membros da família, entre outras possibilidades. Por isso, a realização do genograma pode facilitar o entendimento de queixas trazidas pelos pacientes e do contexto em que eles estão inseridos.  

Diante de suas potencialidades, as aplicações são variadas. Na perspectiva do profissional, o genograma pode ser usado para avaliação de risco para o desenvolvimento de uma patologia, por exemplo. Já na do paciente, ele pode auxiliar no processo de se perceber em seu meio e de identificar repetições de processos, podendo, assim, facilitar a elaboração de questões psicossociais complexas. 

Genograma e o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP):

Em uma abordagem centrada na pessoa, o uso do genograma pode se aplicar aos principais componentes do MCCP. Na medida em que ajuda a esclarecer o processo de adoecer, ele pode participar da identificação de necessidades, por exemplo. Ao avaliar as relações do paciente em seu ambiente familiar, ele pode facilitar nosso entendimento do indivíduo em sua integralidade e inserido no seu contexto específico. Assim, ele também pode propiciar a elaboração de um plano conjunto de cuidado que, a partir da participação ativa, tende a aumentar a adesão aos tratamentos propostos. Tudo isso, quando feito de forma respeitosa e interessada no cuidado, otimiza a construção de uma base sólida na relação entre o profissional de saúde e o -paciente.

Como, então, fazer o genograma?

Embora alguns profissionais de saúde prefiram fazer o genograma em seus primeiros atendimentos com a pessoa ou sua família, o momento da realização pode seguir um senso de oportunidade e de necessidade. A literatura sugere que o genograma seja colocado no início do prontuário e que seja executado de modo que qualquer membro da equipe de saúde possa utilizá-lo no atendimento do paciente.  

A ideia é que a sua construção seja progressiva e, por isso, é importante localizar os eventos relatados ao longo do tempo com a consciência de que novas informações devem surgir no processo. Então, deve-se ter em mente a construção do genograma em seus componentes estrutural e funcional, de acordo com a simbologia normatizada para a sua representação esquemática. No primeiro, devem constar informações como nomes, idades e profissões, de modo a dar início ao traçado da estrutura familiar. Já no segundo, deve-se informar a interação entre os membros da família e os acontecimentos críticos, de modo a compreender a complexidade de suas relações e a conferir a dinamicidade do genograma.

Como o genograma pode ser interpretado?

Sua interpretação deve levar em conta a potencialidade de se ver os quadros apresentados pelos pacientes de forma mais ampla e mais clara. Ela pode ser no eixo horizontal, observando como a situação problema tem impactos para aquele indivíduo e para o seu contexto familiar, ou no eixo vertical, buscando desvendar padrões que, ao longo das gerações, propiciem o surgimento do problema.

Assim, deve-se estar atento aos papéis desempenhados por cada indivíduo no contexto familiar e nas adaptações deles aos ciclos de vida. Tudo isso deve se pautar em uma clínica sensível para perceber as mudanças recentes nos padrões familiares e as repercussões que elas podem ter nas relações entre os indivíduos e na saúde dessas famílias de um modo geral.

Além dos padrões de repetição através das gerações e dos fatores que influenciam no adoecimento, deve-se estar atento a fatores de proteção e de resiliência e a potenciais agentes de apoio ao plano de cuidado. 

A funcionalidade do genograma ressalta a importância da abordagem familiar na prática médica. Seu uso, em uma abordagem centrada na pessoa e em uma clínica investigativa e interessada no cuidado, pode melhorar significativamente a qualidade do acompanhamento na atenção primária. 

O genograma também pode ser complementado por outra ferramenta de abordagem familiar, o Ecomapa, para um melhor estabelecimento das redes de apoio comunitárias. Para saber mais sobre esta e outras ferramentas que potencializam a nossa  prática na atenção primária à saúde, conheça o nosso curso de Abordagem Familiar clicando aqui. 

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