Homenagem singela aos Médicos e Médicas de Família

A contragosto, Igor Starfield fora dispensado da sua diligência diária. Como se fosse dia 1 maio, outorgaram-lhe folga para que tomasse, enfim, merecido descanso. Precisava estar muito bem apresentável, alegou a gerente do seu Centro de Saúde, afinal seria o representante do município a receber homenagem esta noite na nobre Associação Médica. Seria esse, aliás, evento muito pomposo, sem economias de comes, de bebes e, claro, de bajulação. Já esperando por isso, Igor relutava em comparecer, muito humilde que era. Mas tanto insistiram os diretores da instituição, dizendo da importância da data, sobretudo num tempo de desprestígio da figura médica, que o Médico de Família acabou por ceder aos caprichos.

Passara, então, o dia todo inquieto, sem saber o que fazer sem pacientes que cuidar; os quais, por sua vez, também estranharam a ausência do bom doutor ao lhe procurarem no tumultuado início de dia no Centro de Saúde. Lembraram eles das poucas vezes, naqueles 26 anos, nas quais o querido doutor faltara, uma delas, ocasião do nascimento de sua filha, que, prematura, obrigou-o a passar um tempo maior em casa. Agora avisados do motivo da ausência, ponderaram não se tratar de coisa semelhante e concordaram todos que, apesar de não terem seu pronto atendimento, a homenagem e descanso do doutor eram merecidos.

E à noite estava lá, Igor na Associação Médica, deslocado como um quadril em Ortolani positivo, numa festa glamorosa que não lhe combinava. Tanto que, numa roda de conversa, em que jovens médicos gabavam a modernidade dos métodos complementares, ele iniciou uma conversa com os mesmos, e chegou a ter lampejos de esperança, “Quem sabe essa homenagem não pode ser importante para a valorização da especialidade? As vezes algum desses jovens ainda tenha no peito aquele desejo genuíno de estar ao lado do seu próximo… Precisamos tanto de mais pessoas assim…”.

Nesse momento, recebe ele uma mensagem no celular, da enfermeira de sua equipe – mulher guerreira, metódica, sempre ao seu lado liderando os embates pela melhor advocacia das pessoas de quem cuidam. “D. Maria de Lourdes, chegou naquele momento final, os familiares me avisaram, estão tranquilos, mas ela solicitou sua presença”.

É quando Dr. Igor se relembra de D. Maria, de quem fez o primeiro pré-natal, ainda na adolescência, assim como de sua filha, Glória, de quem fez a puericultura…Sem muita hesitação, Igor saiu à francesa e foi mais uma vez segurar as mãos de D. Maria. O sorriso ofegante a afetuoso foi a mais bela homenagem que recebeu naquele dia.

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1 Comentário

  1. Parabéns. Emocionante.

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