Medicina centrada na pessoa: Superando o modelo da doença

Estudos mostram que erros médicos são a terceira maior causa de morte nos EUA e erros médicos são a segunda causa de morte intra-hospitalar no Brasil.

Nesse momento é de se perguntar: Como a Medicina, uma prática científica que pretende cuidar, resguardar a Vida pode chegar a essa dados alarmantes demonstrados pelos pesquisadores da Johns Hopkins e do IESS?

Ora, conforme esses mesmos estudos apontam, existe um problema de caráter sistêmico! E se você aceita que esses dados apontam para um problema grave precisamos compreendê-lo para poder enfrentá-lo!

Certamente uma das razões para esse problema complexo é a incapacidade dos profissionais em saúde superarem o Paradigma Biomédico – idéia científica estruturada no século XIX e cristalizada no século XX, principalmente após o Relatório Flexner reorientar as bases do ensino Médico sobre essa premissa: os fatores biológicos e fisiopatológicos são capazes de explicar o fenômeno da saúde e da doença de forma isolada.

Infelizmente essa ideia, de que a as ciências exatas (biologia, química, física tradicional) poderiam explicar todos os fenômenos do corpo humano, acabou, depois de 100 anos de divulgação, normalizando a separação da saúde física da saúde mental, ou seja, nós criamos um modelo científico para algo que não existe, um corpo sem mente, sem espírito, sem contexto.

Tanto é assim que, em uma faculdade de Medicina, não é raro encontrar um estudante de medicina dedique horas a memorizar um ciclo enzimático e pouco saiba sobre habilidades de comunicação?

Ou seja, esse modelo explicativo para os fenômenos em saúde ignora também os determinantes sociais em saúde: pobreza, saneamento, moradia, exposição a violência são considerados menos importantes que vários fatores biológicos na mortalidade geral, embora os dados mostrem exatamente o contrário!

Socioeconomic status and the 25 × 25 risk factors as determinants of premature mortality: a multicohort study and meta-analysis of 1·7 million men and women

Mas, será que somente agora estamos observando essa falha no modelo biomédico?

Não! E essa tese foi enunciada há muito tempo, já em 1977. George Engel organizou sistematicamente esses erros no seu célebre artigo: The need for a new medical model: a challenge for biomedicine.

Nesse momento você pode estar pensando: “Mesmo o erro tendo sido identificado há mais de 40 anos porque ainda não foi superado?” A Resposta pra esse paradoxo vem do filósofo Thomas Kunh ao analisar como os paradigmas científicos são transformados: “Uma anomalia reconhecida nem sempre gera uma crise”.

Mas, agora, com tantos dados preocupantes das mortes de pessoas, esperamos a crise do modelo biomédico possa ser declarada. E assim possamos rumar a um novo paradigma: a complexidade e integralidade bio-psico-sócio-espiritual.

Conforme esquematizado no diagrama de Inez Padula, um dos primeiros passos para superar as limitações do modelo biomédico é a necessidade de se reconhecer que o foco principal no processo de saúde e doença não é a patologia, mas sim a relação que a pessoa que sofre com o problema desenvolve com a mesma: o adoecimento.

Para ilustramos isso, vejamos uma situação típica: Na enfermaria oncológica o senhor José fraco, consumido, pós-operado utilizando mais de 20 remédios por dia, não reclama e mostra-se bem disposto de enfrentar todas as adversidades. Um ano depois, já curado, graças aos avanços advindo do modelo biomédico, seu José aparece no ambulatório de seguimento. Ele, no entanto, parece outra pessoa: muito queixoso e relutante em tomar os remédios de controle da diabetes.

Ora, como uma pessoa que se mostrava tão disposta e resoluta diante de cirurgias e várias medicações intra-venosas, agora mostra-se resistente a tomar comprimidos diariamente?

  • Será que o Sr José sabe que as Doenças Cardiovasculares matam mais do que o Câncer?
  • Será que o Sr José teve algum familiar que sofreu com o diabetes e projeta esse sofrimento em seu futuro?
  • Será que a aposentadoria por invalidez após o câncer teve impacto na funcionalidade e sensação de saúde do Sr José?

Só o profissional que adentrar o paradigma Biopsicossocialespiritual saberá essas respostas…

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