Medicina de família e comunidade: o que e como?

A medicina de família e comunidade tem como principal área de atuação a Atenção Primária à Saúde (APS), com foco no atendimento às pessoas, famílias e comunidades, e é vista como a especialidade estratégica na composição de todos os sistemas de saúde.

Ela possui como seu representante o(a) médico(a) de família e comunidade, profissional de saúde que acolhe todas as pessoas que o procuram, independentemente da idade, sexo, gênero, cor de pele, religião, classe social, cultura, ciclo de vida ou condição de saúde. É o(a) médico(a) de família e comunidade quem cuida da pessoa, da família e da comunidade, em parceria com outros profissionais de saúde, sempre com foco na pessoa e não na doença.

Por ser uma especialidade tão completa e tão importante, elaboramos este conteúdo para mostrar como atuar de forma efetiva. Acompanhe!

O que faz o médico de família e comunidade?

O(A) médico(a) de família e comunidade gerencia todo o cuidado da pessoa, sendo capacitado para lidar com até 90% dos problemas de saúde. Entre suas atribuições e atividades, estão a promoção da saúde, prevençãorecuperação e reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes da população de crianças, gestantes, adultos e idosos.

Quais são as competências essenciais para esse profissional?

É desejável que o(a) médico(a) de família e comunidade tenha competências fundamentais para a prestação de um serviço de qualidade. Conheça algumas de competências centrais para uma boa prática como Médico(a) de Família e Comunidade:

Centralidade na pessoa

O(A) Médico(a) de Família e Comunidade é compromissado em estar centrado na pessoa atendida. Muito além do “prescrever” o tratamento para o “biológico”, é importante que a equipe de saúde conheça o “biográfico”, a história da pessoa, como ela entende e convive com a sua enfermidade, qual a sua capacidade para o autocuidado, qual a sua vulnerabilidade, quais os seus valores e sentimentos envolvidos, qual a sua rede familiar / comunitária / social. É importante também entender a diferença entre o “saber” e o “fazer”, o processo que passa pelo aprendizado, percepção, motivação e vivência em que o sujeito desenvolve maior autonomia e o autocuidado no enfrentamento da sua enfermidade. Todas essa abordagem está sistematizada dentro do Método Clínico Centrado na Pessoa, descrito por STEWART et al. (2017). E, longe de ser simplesmente um convite ao “humanismo”, as evidências para sua utilização, até mesmo do ponto de vista terapêutico, são muito favoráveis e benéficas: Menos reclamações por negligência (Hickson et al, 1994); Maior satisfação do médico (Roter et al, 1997); Maior satisfação do paciente (Dietrich e Marton, 1982); Maior adesão do tratamento (Golin, 1996; Stewart et al, 1999); Melhor autoavaliação de saúde por parte dos pacientes (Stewart et al, 2000); Redução das preocupações (Bass et al, 1996; Stewart, 1990); e Melhores status fisiológicos (Greenfield et al, 1988)

Prática em saúde baseada em evidências

Em se tratando de evidências, como se bem demonstrou para o uso do Método Clínico Centrado na Pessoa, a prática do(a) Médico(a) de Família e Comunidade deve ser pautada pelo “emprego consciencioso, explícito e judicioso da melhor evidência disponível na tomada de decisões sobre os cuidados de saúde”, como é a filosofia da Prática em Saúde Baseada em Evidências. Isso não significa um emprego cego ou aleatório. Embora as evidências e a estimativa da confiança que se tem nelas sejam essenciais para embasar as recomendações para a tomada de decisões, o(a) Médico(a) de Família e Comunidade entende que só isso não basta. Antes de se chegar a uma recomendação é preciso integrar: 1. Um julgamento sobre o balanço líquido global dos efeitos demonstrados nos vários desfechos; 2. As perspectivas, valores e preferências dos pacientes; 3. Os custos e esforços necessários para a implementação nas circunstâncias do local onde a recomendação será seguida. Será sob esses princípios da prática em saúde baseada em evidências que a prática do Médico de Família e Comunidade deve ser feita.

Trabalho multiprofissional

           A abordagem de compartilhamento de tarefas baseada em equipe é uma fortaleza do(a) Médico(a) de Família e Comunidade. Contra a prática medicocêntrica corrente, que não se sustenta também do ponto de vista da gestão informada por evidências, os Médicos de Família e Comunidade entendem que profissionais de saúde não-médicos são tão eficazes na prestação de cuidados primários em um padrão semelhante ao dos médicos (KOTSEVA et al., 2010) , ou mesmo ainda melhor, dado que existem certas tarefas que comprovadamente são realizadas melhor por profissionais não-médicos, como é o caso do aconselhamento em saúde feito por profissionais de enfermagem (TSHOANANGA et al., 2012). Sabendo disso, o(a) Médico(a) de Família e Comunidade que atesta ainda mais a importância de uma divisão racional de trabalhos entre os profissionais de saúde.

Gestão da Micro-Clínica

Mais do que simplesmente atender e atender consultas transversalmente, o cuidado prestado pelo Médico(a) de Família e Comunidade na atenção primária deve primar por pensar sobre essas informações e agir, a ponto de realmente “fazer a coisa certa, no momento certo, para as pessoas certas e tudo certo pela primeira vez” (Donaldson & Gray, 1998). Essa responsabilidade gestora que também atinge (ou deve atingir) no nível assistencial é o que chamamos e Gestão da Micro clínica, e ocorre na medida em que fornece uma atenção à saúde proativa, integrada e coordenada. A esse gestão está irmanado de outro conceito, a Governança Clínica, através da qual as organizações são responsáveis por melhorar continuamente a qualidade dos seus serviços e a garantia de elevados padrões de atendimento, criando um ambiente de excelência de cuidados clínicos.

Apoio ao autocuidado

Apesar de uma boa Gestão a Clínica e de uma boa Governança Clínica da parte dos profissionais e do serviço serem importantes, ainda assim isso não será suficiente para das condições de saúde e adoecimento prevalentes. Há estudos que mostram que a atenção profissional direcionada aos diversos ciclos de vida, bem como aos portadores de condições crônicas consome poucas horas durante um ano, de forma que o tempo de exposição ao apoio do profissional é infinitesimalmente pequeno frente ao tempo que o paciente convive com seus problemas ou com sua doença (ou seja, todo o tempo), por mais hiper frequentador que seja a pessoa. Isso significa que à atenção profissional deve-se conjugar necessariamente o autocuidado, tanto para complementar quanto para suplementar aquela tradicional forma de se pensar cuidado em saúde com o profissional ditando as ações que devem ser executadas. O(A) Médico(a) de Família e Comunidade sabe disso e estimula a participação do paciente em seu plano de cuidados.

Visão holística

A visão holística engloba a capacidade para utilizar um modelo de abordagem biopsicossocial, que considera os âmbitos culturais e existenciais. Além disso, é preciso reconhecer que a doença está diretamente ligada à personalidade e à experiência de vida do indivíduo, e entender que a enfermidade faz parte do processo de vida humana, inserindo as dimensões ambientais e espirituais, além de identificar a singularidade de cada pessoa em cada cenário.

Qual é a formação do médico de família e comunidade?

A graduação em medicina dura em torno de seis anos. Depois de concluir essa etapa, o profissional está apto para trabalhar como médico generalista. Além disso, é possível que o profissional recém-formado faça uma residência médica ou dedique-se à carreira acadêmica, por meio da realização de cursos para mestrado ou doutorado.

A residência em medicina de família e comunidade, que tem duração de dois anos, torna o profissional habilitado para atuar nessa área específica. Outra alternativa é conquistar o título de especialista por meio da realização de uma avaliação da sociedade da especialidade, sendo preciso atestar quatro anos de experiência.

Quais são as principais oportunidades na área de medicina de família e comunidade?

As principais oportunidades no Brasil para os médicos que desejam seguir carreira nessa especialidade estão ligadas:

  • à assistência na Estratégia de Saúde da Família em Centros de Saúde Públicos Centros de Cuidado Primários Particulares
  • à assistência em Serviços de Atenção Domiciliar
  • à preceptoria em Programas de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade
  • à atividade docente em universidades públicas e privadas;

Além disso, nos dias atuais, existem muitos médicos de família e comunidade que têm se destacado no segmento da gestão e nos processos regulatórios da rede de atenção à saúde. Isso acontece pelo fato de terem uma visão mais ampla e integrada da rede e proficiências em organização e coordenação do cuidado.

Agora que você entende melhor a importância da medicina de família e comunidade e como ela funciona, caso tenha interesse em atuar na especialidade, saiba que é possível aproveitar as melhores oportunidades por meio de um processo de aprendizagem, capacitação e atualização contínuo, de modo a oferecer o melhor aos seus pacientes.

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